sábado, 18 de fevereiro de 2017

Preconceitos linguísticos- Joel Santana

É com certa frequência que ouço as pessoas falando "Eu nem sei falar português, como posso aprender o inglês". Isso não é culpa sua, isso é culpa da nossa cultura, e isso, assim como a percepção que temos do nosso português, também pode e deve mudar.

Agradeço aos meus alunos, que sempre tiveram a mente aberta para entender que o nosso português é a base do nosso pensar e que aplicam a cada aula o que digo nesse texto.


Meu sucesso se mede pelo mérito e empenho de vocês. E me considero uma professora de muita sorte e sucesso! Vocês são DEMAIS!!!

Obrigada e boa leitura!



Aqui vão algumas perguntas:




Como você transmite seus pensamentos e sentimentos com as pessoas com quem convive? Em que língua?




... Deixa eu adivinhar: português? Se você consegue viver e sobreviver, se fazendo entender e entendendo, então SIM, você fala bem a língua!

Por que então insistimos em dizer que não falamos o português?
Porque no Brasil existe ainda uma ditadura, velada: a ditadura de que a gramática dos nossos colonizadores, que moram em outro continente, com um oceano de separação é que falam o português correto. Portugal fala o português correto, de Portugal.
Nós falamos o português correto... do Brasil.



Há uma elite da gramática que quer nos escravizar ao português arcaico, quase o de camões, e que insiste que Portugal, mesmo sendo menor em número de falantes da língua é o país que fala "corretamente". 




A língua é um organismo vivo. Sequer podemos falar de forma homogênea dentro do mesmo país (dados os tantos sotaques de norte a sul).  Não há certos e errados. Sim,  língua precisa de regras para que as pessoas de um território tenham coesão na fala e se compreendam, porém precisamos ser flexíveis as regras que se usa em ambientes tão formais quanto uma audiência no palácio do Plenário e na quitanda do seu João. Como e por que há estas regras da gramática que praticamente ninguém mais usa?

Bom, veja o português exigido em um concurso público... são regras como "Enviar-te-ei uma carta amanhã"... Vocês acham que isso condiz com o ensino da nossa língua nas escolas (que alias, respeita regionalizados) e principalmente, com o português que usamos no nosso cotidiano? Não!
Até a pessoa mais letrada que conheço não utiliza essas estruturas, e muitas vezes, dependendo do contexto e do ouvinte, a pessoa que sabe dessas regras usa para sentir-se superior pois sabe que não será entendido e soará mais "intelectual", "erudito"... Sabendo disso temos o porquê... Porque quem tem pior educação não aprende o português dito "correto", é inferiorizada e acaba tendo menos oportunidades, ou as oportunidades lhe são mais difíceis e parecem muito mais árduas do que para alguém com a oportunidade de educação "erudita" com português de Camões. Quem fala o português errado é considerado burro, mesmo quando se faz entender perfeitamente. (Já diria minha mãe: entendeu? sim! Então não sacrifica! hehehe)



PORTANTO

SIM, VOCÊ FALA PORTUGUÊS. 
NÃO, NÃO EXISTE CERTO E ERRADO QUANDO SE TRATA DE UMA LÍNGUA, DESDE QUE A COMUNICAÇÃO SEJA EFETIVA (ENTENDE E SE FAZ ENTENDER)



Quantos falantes  de português têm no Brazil comparado com Portugal: mais ou menos?




Muito mais. O mesmo ocorre se comprarmos o Estados Unidos à Inglaterra (onde o inglês é língua oficial e de onde se originou). Nenhum americano se diminuiu dizendo que eles não falam bem o inglês. Eles são orgulhosos de seu país e língua. O mesmo ocorre com os canadenses, que alias, em território, é o maior dos países que tem inglês com uma das primeiras línguas (junto com o francês).

Os canadenses ouvem seguidamente dos franceses que eles não sabem falar francês como na França. E eles como bons patriotas que são, e orgulhosos de seu país, não se menosprezam.
Nossos colonizadores "descobriram" nosso continente, empurraram goela abaixo sua cultura e ainda anos depois de nossa independência parecem influenciar nossa percepção de quem somos, nos escravizando a pequenez de quem acha que o bom está aquém do que somos e podemos ser.

O QUE ISSO TEM A VER COM A APRENDIZAGEM DE UMA SEGUNDA LÍNGUA?

1. A crença de que sou incompetente na língua que falo desde que nasci bloqueia a aprendizagem da minha segunda língua. Acho tudo difícil, comparo o inglês com o português, ou seja, comparo uma língua que é nova para mim com uma língua em que acredito ser incompetente. Logo... não aprendo.



2. Esse fator cultural de nos menosprezarmos faz com que a gente se diminua diante de outras nacionalidades (tão superiores a nossa), eu acabo querendo falar tudo certo quando falo inglês, para causar boa impressão, e acabo por não falar é nada!




3. Falo mal dos brasileiros no exterior, esquecendo que sou brasileiro TAMBÉM. Isso gera uma má impressão do estrangeiro NÃO só dos brasileiros, mas principalmente de quem fala isso. E vamos combinar, quem vai querer conversar com alguém que faz pouco caso de si e fala mal dos seus? Isso pode fazer com que várias oportunidades de conversa sejam desperdiçadas. 




O QUE RAIOS O JOEL SANTANA TEM A VER COM ISSO?




Bom, esse vídeo ilustra muito do que quis dizer na resposta da pergunta anterior.

Mas vale ressaltar... Eu inclusa, achava muita graça... e achar graça não tem problema.
Mas a lição dele é ABSOLUTAMENTE EXEMPLAR!






PORTANTO

SIM, GERALMENTE OS GRINGOS SE ESFORÇAM PARA ENTENDER.
NÃO, VOCÊ NÃO VAI MORRER, NEM SER ACHINCALHADO PORQUE NÃO FALOU TUDO PERFEITAMENTE.
E SIM... PELO MENOS VOCÊ TENTOU FALAR UMA OUTRA LÍNGUA... JÁ QUE ELES NÃO FALAM O PORTUGUÊS!!!


SINTA ORGULHO DE SUA LÍNGUA E SEU PAÍS.

Desprezo à nossa língua e cultura não nos torna melhores em línguas em geral e nem nos torna melhores cidadãos ;)

Eu posso dizer com minha experiência morando e viajando para o exterior que, TODO PAíS, sem excessão, tem problemas tão ou mais grave que os nossos. A diferença é a ação que tomamos frente a eles: ou culpamos nossa língua, nosso país, ou tomamos as rédeas e assumimos a nossa parte em fazer melhor.

ORGULHE-SE DA NOSSA CULTURA, NATUREZA, BELEZA E GENTILEZA (ATÉ RIMOU  hehe) NA SUA DIVERSIDADE. 

Faça sua parte, nem que seja exigir, nem que seja dando o exemplo.



Se entendermos a raíz do problema, podemos parar de olhar as desculpas e encarar o que nos detém de frente, é assim que conseguimos ser melhores pessoas (e alunos também!)

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