Primeira coisa que me lembro ouvir quando iniciei os meus estudos de uma segunda língua: "Como que se diz ... em inglês?"
Esta frase faz congelar qualquer estudante calouro de uma língua, e aqui uso propositalmente a palavra calouro, pois tal qual um recém aprovado no vestibular, nos sentimos em um trote.
Quem nunca estudou uma segunda língua na vida possui a percepção de que ao entrarmos em uma escola de idiomas, ou iniciarmos o estudo de uma segunda língua, é baixado em nosso sistema cognitivo um programa de tradução como hoje temos disponível na internet.
Quando eu iniciei meus estudos isso equivalia a um dicionário bilingue já que internet era ainda um bebê de fraldas.
Percebo hoje que algumas crianças, cujo os pais sabiamente incentivam a aprender uma segunda língua, que são as primeiras a aprender uma segunda língua na família ainda passam por esse trote.
Quero aqui apenas esclarecer que, para qualquer pessoa de qualquer idade, é impossível saber traduzir palavras de uma língua para a outra. O próprio Google Translator, sistema utilizado por tantas pessoas, falha em contextualizar palavras como "sede" que terá diferente traduções para outras línguas, pois ela muda de sentido dependendo do contexto (como em "eu tenho sede de água gelada", e "vamos à sede campestre do clube").
Refletindo sobre a situação devo apenas indicar a todos que convivem com um calouro bilíngue que a melhor forma de motivá-lo sem intimidá-lo é questionar "O que você já aprendeu?". Mesmo que ele nada tenha de fato aprendido, ele vai se sentir motivado, em uma próxima ocasião, a compartilhar aquilo que ele conheceu em sua aula.
Vejo que está frase causou trauma em muitas pessoas que hoje se acham incapazes de aprender inglês, pois no passado alguém lhes perguntou "Como que se diz ... em inglês?", ou mesmo (outra clássica) "O que ele/a está dizendo na música?", etc. Na época eles não sabiam o que responder, sentiram-se inúteis e sentiram-se pressionados. Muitos superaram o trauma do trote e seguiram a vida bilingue, e outros não conseguiram superar completamente a impressão que isso lhes causou.
Venho então, por meio deste declarar-lhes que no aprendizado de uma nova língua, assim como no aprendizado de nossa primeira língua, não sabemos e nem saberemos de tudo. A única coisa que podemos é saber mais, a cada dia um pouco mais.
Lembrem-se de que nenhuma casa é construída sem que antes se empilhe um tijolo por vez. E para que eles mantenham-se unidos e não caiam precisamos do cimento, o que na aprendizagem de uma segunda língua é a prática que fará o papel de cimento.
Não se desespere. Chegará o dia em que alguém lhe pedira "Como que se diz ... em inglês?" ou mesmo "O que ele/a está dizendo na música?" e você conseguirá responder com a fluência de um veterano bilíngue.
Até lá, muita pratica para ligar os tijolos cedidos na aula de línguas!
(Adriana Rampi)
domingo, 25 de setembro de 2016
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